História de Bom Conselho: Dos Primeiros Povos à Formação do Município


As origens do município de Bom Conselho, em Pernambuco, remontam a tempos muito anteriores à colonização europeia. Suas terras foram inicialmente habitadas pelos povos indígenas das etnias Xucuru e Fulni-ô, que viviam da caça, da pesca e de uma relação estreita com a natureza local.
Quilombo e Resistência: A Invasão Holandesa (1630–1654)

Durante o período da invasão holandesa no Brasil, entre os anos de 1630 e 1654, a região de Bom Conselho tornou-se palco de episódios de resistência. Nesse contexto, formou-se um dos muitos quilombos do Brasil: o Quilombo de Pedro Papa-Caça, hoje conhecido como Quilombo de Angico. O nome original fazia alusão à tática de sobrevivência dos seus habitantes, que priorizavam a caça ao cultivo, escondendo-se nas matas para escapar da repressão colonial.

Em 1645, no auge da chamada "Guerra do Mato", o capitão holandês Johannes Blaer van Rijnbach (ou João Blaer, como ficou conhecido no Brasil), estabeleceu-se por meses nas terras onde hoje se localiza a região do Bulandi, em Bom Conselho. Ali, em companhia de Bartolomeu Lintz e sob ordens do governador Maurício de Nassau, sua missão era destruir o emblemático Quilombo dos Palmares. Foi também nessa época que o quilombo de Pedro Papa-Caça foi desmantelado e a região passou a abrigar uma colônia holandesa.

No entanto, com o avanço da Insurreição Pernambucana, liderada por luso-brasileiros, os holandeses foram derrotados nas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649), resultando no fim da dominação holandesa no Nordeste. A expulsão definitiva aconteceu em 1654. Ainda assim, alguns holandeses optaram por permanecer no Brasil, como é o caso da família Holanda, cujos descendentes vivem até hoje em Bom Conselho.
Lendas e Colonização: O Tesouro Escondido e a Formação da Fazenda Papa-Caça

No final do século XVII, espalhou-se a lenda de que João Blaer teria enterrado um tesouro nas serras de Bom Conselho. Isso atraiu a atenção de aventureiros e caçadores de fortunas, como o grupo liderado por René Belosch, que chegou à região em meados de 1680 com um suposto mapa em mãos. Durante anos, escavaram o solo e construíram abrigos em cavernas, mas foram perseguidos e forçados a fugir, sem jamais encontrar o tal tesouro.

As terras então se tornaram uma sesmaria, concedida a Jerónimo de Burgos de Sousa e Eça. Em 1712, foram vendidas ao português Manuel da Cruz Vilela, judeu convertido ao cristianismo, que deu início à organização da Fazenda Papa-Caça. Há relatos de que os Vilela também vieram atraídos pelo mistério do tesouro escondido e, por gerações, buscaram por ele sem sucesso.

Com o falecimento de Manuel, seu filho Antônio Anselmo da Costa Vilela, em parceria com Joaquim Antônio da Costa, iniciou efetivamente o povoamento da localidade, que passaria a crescer e se desenvolver.
Educação, Fé e Emancipação

Um marco importante da história local ocorreu a partir de 1860, quando a região passou a ser chamada de Bom Conselho, em homenagem à construção do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, idealizado por Frei Caetano de Messina, frade capuchinho italiano. O colégio tornou-se referência na educação feminina do Nordeste, inspirando a célebre frase do frei:


“Educando-se uma menina, educa-se uma mãe; educando-se uma mãe, transforma-se uma sociedade.”

O desenvolvimento urbano e social culminou na elevação de Bom Conselho à categoria de freguesia em 1887, e, posteriormente, à condição de município autônomo, em 3 de agosto de 1892, por meio da Lei Provincial nº 52. O primeiro governo municipal foi empossado no final daquele ano, em 28 de dezembro.

Hoje, com 133 anos de emancipação, Bom Conselho preserva em sua história uma rica combinação de luta, fé, cultura indígena, resistência africana e legado europeu. Cada capítulo marca a identidade de um povo resiliente, cuja trajetória continua sendo escrita com coragem e esperança.

Postar um comentário

0 Comentários